quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Expansão da Abordagem Articulação por Articulação - Parte 1

Aqui vai um artigo escrito pelo fisioterapeuta norteamericano Gray Cook retirado de seu último livro. Ele faz alguns esclarecimentos com relação a abordagem de treinamento "Articulação por Articulação" que já tornou-se célebre na industria do fitness e da preparação física. Quem não sabe do que se trata, leia o artigo traduzido: Articulação por articulação. Ou a versão original em inglês: Joint by joint approach to training.


Expansão da Abordagem Articulação por Articulação
Gray Cook


Retirado do livro: Movement: Functional Movement Systems - Screening, Assessment and Corrective Strategies (N.T: Livro lançado em agosto de 2010, ainda sem tradução em português).

A conversa original entre Mike Boyle e eu a respeito da abordagem de treinamento articulação por articulação foi mais com a relação a um processo de pensamento do que a respeito de fatos fisiológicos e absolutos. Isto foi tema de muita discussão, mas aqui esta a pérola: Nossos corpos modernos tem começado a desenvolver tendências. Aqueles de nós que são sedentários, assim como aqueles de nós que são ativos, parecem migrar para um grupo com problemas similares de mobilidade e estabilidade. Lógico que serão encontradas exceções, mas quanto mais você trabalhar na área do exercício e da reabilitação mais você verá estas tendências, padrões e problemas comuns.


Um resumo rápido seria assim:

1. O pé tem uma tendência à frouxidão (N.T: a palavra em inglês é sloppiness se alguém tem uma tradução melhor poste um comentário) e portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de estabilidade e controle motor. Podemos culpar calçados ruins, fraqueza nos pés e exercícios que negligenciam os pés, mas o ponto é que a maioria dos nossos pés poderiam ser mais estáveis.

2. O tornozelo tem uma tendência à rigidez e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de mobilidade e flexibilidade. Isto é particularmente evidente na tendência comum de limitação de dorsiflexão.

3. O joelho tem uma tendência à frouxidão e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de estabilidade e controle motor. Esta tendência geralmente antecede lesões nos joelhos e degenerações que na realidade faz com que eles se tornem rígidos.

4. O quadril tem uma tendência à rigidez e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de mobilidade e flexibilidade. Isto é particularmente evidente em testes de amplitude de movimento para extensão e rotação medial e lateral.

5. A região sacral e lombar tem uma tendência à frouxidão e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de estabilidade e controle motor. Esta região está situada em uma encruzilhada de stress mecânico, e a falta de controle motor é frequentemente substituída com rigidez generalizada como estratégia de sobrevivência.

6. A região torácica tem uma tendência à rigidez e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de mobilidade e flexibilidade. A arquitetura desta região é projetada para suporte, mas maus hábitos posturais podem promover rigidez.

7. A parte inferior e média da coluna cervical tem uma tendência à frouxidão e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de estabilidade e controle motor.

8. A região cervical superior tem uma tendência à rigidez e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de mobilidade e flexibilidade.

9. A região escapular tem uma tendência à frouxidão e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de estabilidade e controle motor. A substituição escapular representa este problema e é um tema comum na reabilitação do ombro.

10. A articulação do ombro tem uma tendência à rigidez e, portanto poderia se beneficiar de maiores quantidades de mobilidade e flexibilidade.

Observe como rigidez e frouxidão se alternam. Claro que traumas e problemas estruturais podem quebrar este ciclo, mas este é um fenômeno presente e observável, produzindo muitos problemas comuns de padrões de movimento. Este fenômeno também representa a regra na avaliação ortopédica de sempre avaliar as articulações acima e abaixo da área problemática. Não seria lógico esperar melhorar a estabilidade do joelho na presença de restrições na mobilidade do tornozelo e do quadril. Da mesma forma, seria inviável supor que uma recente melhora na mobilidade do quadril não voltaria à rigidez se não fosse criada uma melhora na estabilidade no joelho e na região lombar. Frouxidão crônica seria sempre a opção mais fácil de ser utilizada pelo corpo do que a nova mobilidade.

Quando Mike e eu discutimos pela primeira vez estas camadas de opostos, ele fez um ótimo trabalho desenvolvendo o tópico, para discutir uma abordagem mais abrangente para a concepção do programa de exercícios.

O ponto é que a abordagem articulação por articulação não são os 10 Mandamentos da Mobilidade e Estabilidade: Torne o tornozelo móvel. Torne o joelho estável. Torne o quadril móvel. Torne a coluna lombar estável. Nós iremos encontrar a cada momento uma pessoa que tem o tornozelo muito móvel ou que tem uma frouxidão no quadril. Usamos as palavras mobilidade ou estabilidade para implicar um segmento do corpo que poderia estar se movendo melhor ou ter mais controle. A questão toda é praticar com uma abordagem sistêmica para “desobstruir” as articulações acima e abaixo daquela que está com problemas.

Eu fui entrevistado sobre este assunto depois que ele se tornou popular, e muitos dos meus comentários a respeito da discussão sobre esta abordagem foram transcritos para você aqui:

→ Quando falamos do tornozelo, estamos falando a respeito da articulação do tornozelo, os inversores, os eversores, os dorsiflexores, os flexores plantares e todos os outros estabilizadores que controlam este tornozelo. Não estamos falando apenas a respeito da articulação, estamos falando a respeito do complexo. Da mesma forma com o joelho; quadril; a coluna lombar; coluna torácica, e assim sucessivamente por toda cadeia.

→ Quando estiver prestes a fazer um treinamento de estabilização do joelho ou estabilização lombar e toma a abordagem cinesiológica clássica de treinar todos os músculos ao redor do joelho ou todos os músculos ao redor do core, estará cometendo um erro em nove de dez oportunidades. Você está supondo que quando você treina o joelho, o quadril e o tornozelo estão contribuindo como deveriam, tanto quanto deveriam. Isso quase nunca acontece.

→ O mesmo acontece com a estabilidade lombar. Algumas das pessoas que produzem pesquisas com relação à estabilidade lombar hoje em dia são muito bem intencionadas com relação aos músculos que eles querem que ativemos e os músculos em que eles querem que foquemos nossos exercícios. Eu não tenho problemas com pesquisas ou sugestões com relação a estabilidade lombar. Tudo que peço é que os autores usem afirmações de qualidade na sua conversa sobre estabilização do core: Estas afirmações sobre estabilidade tem sido feitas supondo que se saiba como desobstruir os quadris a coluna torácica e outras regiões onde a mobilidade vai realmente comprometer a estabilidade. Estas regiões deveriam ser consideradas como razões potenciais para perda de estabilidade e comportamento de compensação.

→ Logicamente temos de nos certificar que estas áreas são móveis, pois se a os quadris e a coluna torácica não são móveis a estabilidade na coluna lombar que criarmos não é real. Nós desenvolvemos estabilidade e força suficientes fazendo pranchas laterais, mas nós não estabilizamos autenticamente em ambientes naturais. O ponto central na discussão “articulação por articulação” é garantir que estamos trabalhando no que pensamos que estamos trabalhando. A maioria de nós comete o erro assumindo frouxidão nos joelhos, rigidez no tornozelo, rigidez na coluna torácica sem considerar problemas potenciais acima e abaixo. Prancha Lateral



→ Qual seria a razão para a coluna torácica tornar-se rígida? Provavelmente exista uma falta de estabilidade em algum outro lugar. Frequentemente se não há estabilidade necessária do core a coluna torácica ficará rígida o que também funciona no sentido inverso. Se a coluna torácica é muito rígida a estabilidade do core será comprometida. Este não é o caso de encontrar o que veio primeiro: o ovo ou a galinha – é preciso ter ambos ou não será possível controlar nenhum.

A lição que se pode tirar da discussão articulação por articulação é esta: Ao invés de tentar memorizar como tudo isto supostamente funciona em um mundo perfeito, faça a si mesmo estas questões:
– Estou pronto para treinar mobilidade ou estabilidade neste segmento.
– Eu quero que este segmento se mova melhor ou eu quero que este segmento seja mais estável.
– Tenho realmente claro se as articulações acima e abaixo agravam o problema?

Extraído do apêndice 2 do novo livro de Gray Cook: Movement.

5 comentários:

  1. Professor...

    Meu nome é Rossman Prudente Cavalcante, sou profissional de Educação Física e já trabalho há bastante tempo com abordagem de treinamento integral...Na verdade o meu comentário não diz respeito exclusivamente ao artigo (também comprei o livro do Boyle), mas trata-se de um agradecimento pela sua generosidade e disponibilidade de tempo para traduzir, postar e comentar temas que ainda se constituem como "áreas obscuras" nas ciências do movimento. Parabéns e obrigado em meu nome e dos curisosos que não se contentam com o "status quo" do treinamento.

    Abs

    Rossman Cavalcante

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  2. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  3. Obrigado pelo reconhecimento camarada, apenas gosto de compartilhar informação e promover discussões entre os profissionais da área da saúde, principalmente entre nós da Ed. Fís e a turma da Fisioterapia, quanto mais nos entendermos e compartilharmos informações mais o nosso público será beneficiado.
    De onde vc é?
    Abraço

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  4. Mestre, a falha do Joint by joint eh qdo o paciente tem uma disfunção ascendente e uma antiga descendente...eheheh. No resto, vai bem. Abço
    Rodrigo

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  5. Mas para isso que existem os bons fisioterapeutas que me informam quando as coisas fogem ao padrão. E como disse o Gray Cook, não são os 10 mandamentos da mobilidade e estabilidade. Porém grande parte dos casos caem dentro de um padrão.

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