segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Princípios do Movimento - Número 9

Penúltimo capítulo da saga no ar, este com a participação do meu amigo Prof. Rodrigo Nascente
Aos que não leram ainda os capítulos anteriores, aqui vão os links:
- Princípios do Movimento #1
- Princípios do Movimento #2
- Princípios do Movimento #3
- Princípios do Movimento #4
- Princípios do Movimento #5
- Princípios do Movimento #6
- Princípios do Movimento #7
- Princípios do Movimento #8

Boa leitura aos amigos.

Princípios do Movimento #9
Gray Cook

Princípio 9: "A dosagem da receita de exercícios corretivos sugere que trabalhemos perto dos parâmetros, no limite da habilidade e com um objetivo claro. Isso deveria produzir uma experiência sensorialmente rica, preenchida com erros administráveis" 

Nosso real objetivo é o conhecimento silencioso - sem palavras, apenas melhor percepção e comportamento do movimento. Em The Voice of Knowledge (N.T: Seria algo como A Voz do Silêncio em português), o ex-médico Miguel Ruiz discute o conhecimento silencioso do corpo com eloquência e clareza. Ele declara: - Seu fígado não precisa ir a escola de medicina para saber o que fazer.






Podemos expandir esta simples e brilhante declaração sobre os sistemas de movimento também. Estes sistemas usam naturalmente suas percepções para criar comportamentos e seus comportamentos para refinarem suas percepções. Seus abdominais, diafragma e assoalho pélvico sabem o que fazer e como trabalharem juntos se você deixar. Por isto que não precisamos fazer um trabalho especializado de core com crianças. Sua curiosidade natural direciona à exploração, e sua falta de controle de movimento exige coordenação ao saírem para explorar o mundo ao redor. Então a exploração requer movimento, e elas trabalham no movimento para conseguirem explorar. 

Quando seus clientes e pacientes aparecem em cena com disfunções de movimento, você não pode abandoná-los à mãe natureza, porque por muito tempo eles tem trabalhado contra ela. Afim de ajudá-los é preciso quebrar um comportamento e reiniciar uma experiência. A partir da experiência você irá desenvolver a estratégia correta.

Erros administráveis significam erros administrados por pessoas aplicando exercícios. Esses erros não serão administrados se dispararmos um sinal de alerta a cada vez que o indivíduo balançar ou não estiver muito firme. Erros administráveis significam que embora o movimento não pareça lá muito bonito, esse indivíduo não está alimentando uma disfunção.
Todo propósito de se aplicarem exercícios corretivos é melhorar a qualidade do movimento em um padrão em particular. Por que se dar ao trabalho de fazê-lo quando não há um parâmetro qualitativo de movimento?

Isto me lembra minha estória. Eu já estava dando palestras ensinando exercícios funcionais e corretivos antes de ter inventado o FMS (N.T: Functional Movement Screen ou em uma das adaptações para a a nomenclatura em língua portuguesa: Análise 
Funcional de Movimento). De repente uma luz se acendeu na minha cabeça. Eu olhei para as 50 pessoas que me olhavam de volta em busca de conselhos sobre exercícios corretivos e treinamento funcional e pensei: - Meu Deus, eles não tem as mesmas medidas para analisarem qualidade de movimento. 

O que pensei foi: - Eu tenho essas ideias a respeito do que movimentar-se bem significa, mas ainda não tenho uma padronização. Temos de padronizar o que significa qualidade mínima de movimento.

Existem muitas pesquisas que dão suporte à Análise de Movimentos. A maioria das pesquisas dizem que as pessoas deveriam ser capazes equilibrarem-se sem muito movimento postural (N.T: No sentido de movimentos exagerados em busca de manter o equilíbrio) por 10 a 20 segundos em uma base unipodal. Bem, para realizar o passo sobre a barreira leva-se de 3 a 5 segundos (N.T: Passo sobre a barreira, hurdle step no original em inglês, é um dos 7 testes que compõem o FMS). Se o indivíduo não consegue ao menos realizar o passo sobre a barreira, estou totalmente convencido que este indivíduo possui uma postura unipodal disfuncional ou não tem mobilidade suficiente para ultrapassar a barreira.
Passo sobre a barreira (hurdle step)

Não importa muito qual desses problemas o indivíduo tem - ele tem um problema naquele padrão de movimento. Se eu for corrigir este padrão de movimento, agora eu sei quão ruim o problema é e temos uma escala de classificação para seu problema. Tudo que eu fizer com a esperança de melhorar sua postura unipodal ou a mobilidade da perna que ultrapassa a barreira, estará focada no que pode o estar impedindo de realizar o passo sobre a barreira (N.T: Ou seja, temos um parâmetro, no caso do exemplo o padrão é o passo sobre a barreira, pode-se aplicar uma estratégia, retestar e ver o que realmente funciona).

Uma das perguntas que sempre me fazem é: - De onde você tira todas essas inovações em exercícios? De onde tira todas essas idéias e como é que eu nunca vi alguém usar chops, lifts (N.T: Chop é a diagonal de cima para baixo e lift a diagonal de baixo para cima, como mostrados na figura abaixo) e levantamentos terra unilaterais assim antes?


Chop e lift


Levantamento terra unilateral


Não é porque eu iniciei pensando como penso hoje. Eu costumava fazer o que todos eramos ensinados a fazer. Mas uma vez que estabeleci um parâmetro para a qualidade de movimento eu estive sempre tentando me ater a estes parâmetros, eu percebia algo que supostamente deveria melhorar o agachamento, mas que na realidade não melhorava. Algo que supostamente deveria melhorar a mobilidade de ombros, mas que não durava. Eu tinha este gênio no meu ombro dizendo: - Ei você tem está analise de movimento. Você está jogando todos estes bem definidos e claros exercícios, porém estes não estão mudando o movimento.

Então eu alcancei um dilema profissional. Então eu tinha que ou jogar o FMS no lixo porque estava me dizendo a coisa errada, ou questionar toda uma filosofia de exercícios. 
E sabe do que mais? Eu não acho que o FMS esteja realmente pedindo tanto.

Normalmente existe muita dificuldade com o FMS, mas quando analisamos isso em teoria, não deveria ser assim tão difícil. Levante uma perna, agache profundo, dê um passo por sobre uma corda, coce suas costas (N.T: se refere às tarefas a serem realizadas nos 7 testes do FMS). Estas coisas não são assim tão difíceis. 

Nos tornamos tão míopes em nosso treinamento ou tão especializados e perdemos um certo aspecto de nossa mobilidade física. De repente: - Oh meu Deus. Como obtemos isso de volta?

Se você realmente considerar o que melhora e o que não melhora o movimento, começará a desenvolver exercícios da mesma forma que eu fiz. Eu bani todos exercícios que não me dessem uma rápida ou apreciável mudança em um padrão de movimento. 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Princípios do Movimento - Número 8

Aos que não leram ainda os capítulos anteriores aqui vão os links:
- Princípios do Movimento #1
- Princípios do Movimento #2
- Princípios do Movimento #3
- Princípios do Movimento #4
- Princípios do Movimento #5
- Princípios do Movimento #6
- Princípios do Movimento #7

Princípios do Movimento #8
Gray Cook

Princípio 8: "Precisamos desenvolver performance e habilidade considerando cada camada de uma progressão natural de desenvolvimento e especialização do movimento. Este é o modelo da pirâmide de competência, capacidade e especialização".


N.T: Modelo da Pirâmide de Performance: a base representa a competência no movimento, o meio a capacidade e o topo a especialização



Tente manter isto simples, mesmo quando estiver usando o modelo da pirâmide. Em primeiro lugar, direcione a conversa para longe da perfeição e da performance exemplar e redirecione para um foco de um mínimo de competência usando a pressão arterial como exemplo. Quando avaliamos a pressão arterial de um grupo de pessoas, não estaremos procurando por um número perfeito em termos de pressão arterial - estamos procurando por sinais de alerta. Sem pensar muito, provavelmente separaríamos o grupo em: alto risco, valores limítrofes e baixo risco.

Por que não podemos iniciar nossas conversas a respeito de movimento da mesma maneira? Atire 3 termos quando discutir os tópicos reabilitação, exercício ou treinamento: Estamos falando de competência, capacidade ou especialização? Normalmente receberá de volta um olhar confuso, mas esta é uma bela maneira de começar a conversa. Isso força perspectiva. Isso força a consideração de princípios.

Cada um destes níveis de movimento precisa ter uma competência mínima, e em uma ordem progressiva.


Competência


Capacidade


Especialização


Competência:   
Isso testamos com a análise de movimento (N.T: O já célebre FMS: Functional Movement Screen). Se a análise revela revela dor ou disfunção na forma de limitações e assimetrias, existe um problema de competência de movimento. Alternativamente, existe um problema de aptidão básica de movimento, escolha o termo que preferir, mas mantenha o ponto. Competência adequada, sugere qualidade aceitável dos movimentos fundamentais.

Capacidade:   
Capacidade é medida usando testes padronizados para capacidade física utilizando-se de dados normativos específicos à uma população em particular ou categoria de atividade. Jogadores de futebol americano são comparados com seus pares, assim como golfistas são comparados com golfistas. Se a competência de movimento está presente e estes testes de capacidade revelam limitações de força muscular, potência ou resistência, existe um problema fundamental de capacidade física. Capacidade adequada, simplesmente sugere quantidade de movimentos fundamentais aceitáveis.

Especialização:   
Treinadores e especialistas avaliam habilidade com o uso da observação (N.T: Os nossos olheiros de futebol de campo por exemplo), testes especiais, exercícios de habilidade e estatísticas se estiverem disponíveis.  Se a capacidade está presente e os testes e estatísticas revelarem limitações na performance de habilidades específicas, existe um problema de especialização. 
Especialização adequada, simplesmente sugere habilidades de movimentos especializados aceitáveis.

Esta é uma maneira de discutir a pirâmide de performance sem um diagrama. É também uma grande maneira de ver se existe uma apreciação do continuum natural de desenvolvimento que produz o movimento humano.

Um aviso porém: Não podemos nos tornar exigentes demais, exigindo total perfeição nos escores do FMS. Procure por deficiências em cada nível de movimento. Nosso objetivo final é identificar o elo mais fraco, porque as vezes o problema não é a qualidade do movimento. É uma deficiência de capacidade física ou pouca habilidade especializada que está causando problemas.

Introduzi primeiramente este conceito no livro Athletic Body in Balance. Usei isto simplesmente como um veículo de comunicação visual para discutir a lógica por trás de se buscar movimentos fundamentais primeiro, fazendo muito desses movimentos e desenvolvendo através deles algum degrau de capacidade física e resistência. Então após isso teríamos como alvo correr, saltar, escalar, arremessar, etc.


A hierarquia demonstra como uma atividade fundamental suporta a próxima e como esta próxima atividade: força, potência, resistência, dentre outras, suporta a aquisição de habilidade. A aquisição de habilidades em arremessar, dançar, chutar, saltos acrobáticos, ginástica artística, movimentos de lutas, requerem prática.


Se você tem apenas estabilidade, integridade e força suficientes para atingir um baldinho de bolas de golfe diariamente, nunca será um bom golfista. É necessário muito mais tempo. Se tem tempo apenas para praticar 2 movimentos de luta por dia, jamais vencerá uma luta. 


Desenvolva eficiência nos movimentos em primeiro lugar (mobilidade e estabilidade fundamentais) e não lute connsigo mesmo ao movimentar-se, então desenvolva integridade física em algum grau para que possa levantar pesos, girar, saltar e dominar seu peso corporal.

Agora que desenvolveu um tanque de combustível grande o suficiente, você pode entrar na área das habilidades, sejam elas: ginástica olímpica, MMA, dança, golfe, tênis,  etc. e aprenda a desenvolver suas habilidades.

Não que esses programas motores constroem apenas segurança, durabilidade, alinhamento e integridade. Eles também literalmente fornecem uma reserva física para fazer múltiplas repetições com integridade antes de começar a falhar na boa postura. Qualquer prática que se faça depois disso significa que se está aprendendo a se mover de maneira errada (N.T: Através da má postura).

Quando eu falo a respeito dessas camadas, isso não significa que se o seu interesse é golfe você não possa começar a dar umas tacadas agora mesmo. No entanto, não invista em passar 3 horas dando tacadas se você só tem a capacidade física para passar somente 30 minutos praticando corretamente. Invista tempo também para desenvolver a integridade de um sistema que suporte a sua prática. 

Por exemplo, digamos que você seja avaliado usando alguns testes de performance, alguns testes de habilidades e o FMS, e aconteça de seu escore no FMS ser horrível. Você realmente não consegue se mover bem.

Mas sua força muscular é muito boa, você pode saltar bem alto. Você definitivamente tem explosão. Tem uma resistência moderada. E consegue encestar todas da linha dos 3 pontos. Você é um jogador de basquete muito bom. Consegue fazer ótimas bandejas e muitos poderiam afirmar: - Por que apesar de tudo isso ainda nos preocupamos com o escore do FMS?

O FMS nos diz, a partir da maioria das pesquisas que temos, que sem integridade destes movimentos fundamentais você está perdendo algo. Está perdendo a durabilidade que existe quando os movimentos fundamentais estão adequados. Existe uma classificação dessa durabilidade, significando que o risco de lesões aumenta quando o escore do FMS é baixo.

Segundo, existe uma adaptabilidade física. Nós vemos grandes atletas que não possuem um grande escore no FMS. No entanto, vemos também uma de duas coisas: É difícil para eles mudarem seu jogo e adaptarem-se a novas coisas ou tem alto risco de lesão. Ambos os pontos nos trazem de volta a questão de melhorar a fundação, e o que descobriremos é aumento da eficiência ao fazê-lo.

A partir disso, você poderá jogar ou praticar por mais tempo sem fadiga, a resistência aumentada a fadiga permitirá uma prática com mais integridade. Praticar com mais integridade reduz os micro-traumas, a chance de se lesionar ou de um acidente diminui.

Estás camadas constantemente se inter-relacionam. Se puder rever os livros Athletic Body in Balance e Movement, irá descobrir diferentes perfis da pirâmide: Pirâmide com Excesso de Potência, Pirâmide com Falta de Potência (N.T: O Manual da Certificação Internacional FMS - Nível 1 traz esse assunto em detalhes também, no Brasil a certificação está sob a responsabilidade da Dra. Carla Sottovia).


N.T: Pirâmide com Excesso de Potência, retirado do Manual da Certificação Oficial FMS no Brasil.



N.T: Pirâmide com Falta de Potência, retirado do Manual da Certificação Oficial FMS no Brasil.


Isso cria uma metáfora em que muitos dos nossos clientes, atletas e pacientes se encaixam. Nos dá uma construção lógica e um modelo que nos diz exatamente o que fazer. Precisamos dar as pessoas um bom alicerce.

Por outro lado se o alicerce é bom, mas você não está praticando a parte técnica, de habilidade o suficiente, então este é o problema (N.T: No caso de atletas, claro.)

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Princípios do Movimento - Número 7

Este talvez seja um dos princípios mais fáceis de compreender, além de ser um princípio que procuro seguir no momento em que planejo meus treinos. 
Aos que não leram ainda os capítulos anteriores aqui vão os links:
- Princípios do Movimento #1
- Princípios do Movimento #2
- Princípios do Movimento #3
- Princípios do Movimento #4
- Princípios do Movimento #5
- Princípios do Movimento #6

Princípios do Movimento #7
Gray Cook

Princípio 7: "Não deveríamos colocar condicionamento físico (fitness) sobre disfunção"

É possível que pessoas condicionadas se movam mal e que pessoas não condicionadas se movam bem. Nós medimos quantidade de condicionamento e qualidade de movimento com diferentes ferramentas. Esquecemos disso muitas vezes e assumimos que condicionamento físico é o parâmetro fundamental, mas não é.

Condicionamento físico e performance ou capacidade física é o segundo de um processo de três passos. Quando discutir a informação deste livro (N.T: Refere-se ao livro Movement, onde estes princípios do movimento foram publicados originalmente) com colegas de profissão, profissionais de outras áreas, clientes ou pacientes, mantenha isto simples a princípio. Certifique-se de estabelecer concordância com relação aos fundamentos. Se existir um problema de entendimento com relação à lógica básica dos sistemas de movimento funcionais (N.T: do original functional movement systems que além de ser o nome da empresa, representa sua abordagem em relação à movimento, treinamento, etc.), há pouca chance de criar um entendimento com relação às partes corretivas do modelo. As pessoas precisam entender o básico da abordagem da pirâmide (N.T: refere-se ao modelo da pirâmide de performance, onde a base representa os padrões de movimento básicos, o meio às capacidades físicas e o topo às diversas habilidades esportivas=especificidade de cada modalidade. Mais detalhes do modelo da pirâmide no "Princípios do Movimento - parte 8". Reproduzo o modelo da pirâmide abaixo). 




Tenho usado esta afirmação (N.T: não pôr força sobre disfunção); E tenho ouvido muitas pessoas repetirem-na e atribuírem-na a mim. Acho que eu a criei um dia, mas carrego as idéias de muitas outras pessoas além das minhas.

A única prática que vale alguma coisa é a que não reproduz erros contínuos e não-controláveis. Se você tem um padrão de avanço (N.T: lunge no original) ruim do lado esquerdo e colocar sobrecarga nele, passando do ponto onde representa apenas um desafio,  passando a ser difícil demais, seu cérebro muda para o modo: "eu tenho de sobreviver a isto".

Seu cérebro esquece de se mover com integridade e equilíbrio e entra em modo de sobrevivência. Você sobrevive à carga, mas não tira benefício dela. Você não aprende e nem ganha nenhum benefício motor.

Vemos aquele padrão ruim do avanço e pensamos: "tenho que melhorar esse avanço". Colocamos sobrecarga nele e de repente a carga extra provoca uma melhora. Pensamos então que estamos tendo algum tipo de benefício, de alguma maneira, mas o que realmente estamos fazendo é reproduzir uma compensação sob carga.

A carga da qual estamos falando é peso, velocidade, ou amplitude excessiva de movimento. Se não houver um nível mínimo de competência ou algum grau de integridade quando colocamos um estímulo estressor desnecessariamente, reforçaremos o que quer que haja de errado. O stress reforça as "coisas" em organismos biológicos. O que não te mata pode deixa-lo mais forte, mas pode deixá-lo mais forte na direção errada.

Se você está agachando errado e isto não está lhe matando, pode ser que este agachamento deixe seus espasmos nos flexores de quadril mais fortes. Pode tornar pior sua lordose acentuada ou tornar mais difícil de corrigir seus ombros arredondados.

Quando se começa uma sessão de treino com uma disfunção oculta lembre-se disto: 
" O Exercício é a prova de fogo, precisamos otimizar a situação e depois temperar o aço, não fazemos isso de outra forma".

É isto que está mais ou menos por trás deste princípio. Não é uma contradição. Quando falo de exercícios corretivos , existe um monte de carga ou stress, porque devemos aprender a controlar o peso corporal. Controlar o equilíbrio sem sobrecarga externa é natural. Todos fazemos isto desde que aprendemos a caminhar.

O que não é natural é colocar sobrecarga em um agachamento que não possui a integridade de movimento. Não existe uma situação em que um bebê poderia pensar: 
- Não consigo realmente agachar tão bem no momento, talvez colocar aquela mochilinha nas costas possa ajudar.

Esta é outra forma do que estamos fazendo na academia quando jogamos quantidade no intuito de melhorar a qualidade de movimento. Se você quer melhorar a qualidade, melhore a qualidade. Se quer reforçar a qualidade jogue quantidade.

Isto me lembra outro assunto.
Quando Brett Jones e eu dissecamos o Turkish Get Up no dvd Kettlebells from the Ground Up, nossa intenção não foi colocar todo mundo a fazer get ups leves. A ideia era, se você tiver um get up com uma qualidade menor do que a ideal, então pegue pesos leves até que recapture a integridade do movimento. Então pegue pesado, porque esta é a melhor maneira de verificar se você consegue sustentar integridade e dominar a qualidade do movimento.


Turkish Get Up - 36 kg


Uma vez que a qualidade se encontra em uma base aceitável, comece a explorar novos níveis de quantidade - força, velocidade, resistência - e veja se consegue manter um nível mínimo de qualidade.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Princípios do Movimento - Número 6

Retomando a série dos princípios do movimento depois de algum tempo de inércia.
Agradeço aos amigos Prof. Tiago Proença pelo "estímulo" à retomada dos trabalhos e ao Prof. Cesar Silva pelo auxílio na tradução.
Essa é mais uma adaptação do que uma tradução, me deu um tanto de trabalho este, não só os termos e palavras, como a compreensão da mensagem que o Gray Cook queria transmitir, ainda não tenho certeza de que consegui entender a profundidade de sua mensagem, ainda estou com aquela sensação de que algo me escapou.
Se os amigos leitores quiserem adicionar suas correções, sintam se a vontade, o artigo original está aqui:
Gray Cook: Movement Principle #6
Boa leitura a todos.

E aos que perderam os capítulos anteriores aqui vão os links:
- Princípios do Movimento #1
- Princípios do Movimento #2
- Princípios do Movimento #3
- Princípios do Movimento #4
- Princípios do Movimento #5

Princípios do Movimento #6
Gray Cook

Princípio 6: "A percepção direciona o comportamento do movimento e o comportamento do movimento modula a percepção"



A questão é: Como os movimentos se desenvolvem naturalmente e como grandes performances acontecem? Será que as mesmas forças produzem tanto o primeiro passo de uma criança quanto uma autêntica corrida? Ambos são conduzidos por entradas de informações (input) que influenciam a percepção. Ficamos presos na prática, na saída de informações (output) e supomos que a nossa entrada de informações é igual àquela que queremos imitar. Nós executamos um exercício passo a passo e supomos que nosso cérebro encontrará valor e portanto irá agregar isso à memória dos padrões de movimento.

Deveríamos saber melhor, mas todos esperamos que o resultado das práticas de movimentos irão criar padrões de movimento favoráveis. Na verdade deveríamos estimular todas as informações sensoriais (N.T: refere-se a entrada de informações: input no inglês) que produzem padrões de movimento gerais e específicos, ao invés de apenas praticar o resultado motor (N.T: refere-se a saída de informações: output no inglês) Isso irá colocar o foco na percepção, e quando alcançarmos a dosagem correta de percepção, o comportamento (motor) irá fornecer o retorno de informação (feedback)

Atores imitam as características dos personagens que interpretam e frequentemente nos convencem, mas isso está no script. O ator não é o personagem, mas por um breve tempo ele age como se fosse. Tratamos o exercício e a reabilitação da mesma maneira.  Treinamos os movimentos em um ambiente controlado e assumimos que mudamos o comportamento motor em outras situações e até mesmo outras atividades. Mas esquecemos que quando o ator deixa o palco e retorna a sua vida diária, acaba por esquecer a vida do personagem. Nossos pacientes e clientes frequentemente fazem a mesma coisa. A maneira como se movem contará a estória do quanto aprenderam e o que acabaram esquecendo. 

Este princípio nos lembra que existe um círculo contínuo de informação chegando, e consequentemente de atividade sendo produzida. A atividade produzida está sempre tentando se ajustar à entrada de informações. Se ajustarmos em demasia, podemos causar uma queda ou perda de equilíbrio. Se ajustarmos de menos, também cometeremos erros.  


Por exemplo, quando treinamos, esquecemos que estamos fazendo uma série de 10 repetições - nós quase podemos pensar nisso como 10 séries de 1 repetição. Alguns bons exemplos práticos advém disso.
Quando ensino o levantamento terra, eu uso uma dica que me foi dada pelo Pavel (Pavel Tsatsouline, russo considerado o responsável por reintroduzir e popularizar o kettlebell nos USA): Vamos fazer 1 repetição de um levantamento terra, coloque o peso de volta no chão, fique em pé, flexione o quadril e faça tudo isso novamente (N.T: trocando em miúdos, isso quer dizer, fazer uma repetição, colocar o peso de volta no chão, ficar em pé-sem o peso, ajustar novamente a postura e posição corporal e então fazer mais uma repetição com peso. Alternando repetições com e sem peso para melhorar a entrada e saída de informações: input e output).
O que Pavel está nos dizendo é que entrar em posição, fazer uma puxada respeitável é tão importante quanto ficar subindo e descendo, batendo os pesos no chão na tentativa daquela quinta repetição.

Entrar em posição, ajustar o alinhamento, criar tensão e fazer um movimento respeitável são partes do processo. A consciência de cada um a respeito do movimento é quase tão importante quanto o resultado, o alinhamento ou a posição do corpo.


Eu passo um pouco mais de tempo ajustando a entrada de informações. Eu realmente tento extrair mais do sistema sensorial para que eu tenha o resultado desejado sem ter de pedir por isso (N.T: Refere-se a dar muitas dicas verbais ou ficar arrumando a posição, como muitos de nós fazemos habitualmente). Se eu peço, posso até ver um movimento sendo bem executado, mas não tenho a certeza de que realmente mudei o comportamento motor desta pessoa.


Quando damos muitas dicas verbais, apenas fazemos com que as pessoas reproduzam algo no espelho sem realmente dominar a flexão do quadril, a estabilidade do ombro ou a postura unipodal. estamos vendo as pessoas fazendo uma pose, porque é o que elas pensam que queremos que elas façam. Tente uma estabelecer uma situação mais holística, para que eles possam reproduzir alguns dos padrões de movimento que estamos treinando. Se não há uma aplicação prática do treino, por que estamos fazendo isto? 


A maioria das pessoas, quer seja um jogador profissional de futebol americano ou alguém que espera apenas ter uma boa sessão de exercícios, assumem que o investimento no exercício terá uma transferência. Fazem isso para sentirem-se melhores, parecerem melhores, conseguir um contrato de 5 milhões de dólares, vencer uma corrida de 5km, etc. 


Todos temos expectativas relacionadas à nossos exercícios. O exercício não deveria ser uma entidade por si só. É uma situação de aprendizado. A sessão de exercícios, como Dr. Ed Thomas explica eloquentemente, é um efeito colateral. O benefício físico de suar e liberar endorfinas é simplesmente um efeito colateral de ter uma incrível experiência de aprendizado corpo-mente.


Fico muito desapontado quando vejo pessoas apenas "quebrando" seus clientes ou a si próprios. Você não ganhou ou adicionou nada àquela sessão de treino, nada a não ser queimar algumas calorias  que poderia ter queimado facilmente por ter alguma integridade no movimento.