domingo, 26 de outubro de 2014

Notas Sobre Anatomia Funcional - Parte 4

Dando continuidade a série de anatomia funcional...uma das frases contidas no material, que creio melhor descrevem a importância de se ter esse conhecimento anatômico é: "A estrutura dita a função, se não entendemos a estrutura, não seremos capazes de entender a função e programar de acordo". 

Aos que não leram as 3 primeiras partes, aí vão os links:
Notas Sobre Anatomia Funcional - Parte 1
Notas Sobre Anatomia Funcional - Parte 2
Notas Sobre Anatomia Funcional - Parte 3


Notas Sobre Anatomia Funcional - Parte 4
Marcus Lima

Antes de começar com o primeiro músculo, as fibras posteriores do glúteo médio, revisemos o que foi dito a respeito das fibras anteriores dele:


Glúteo Médio (fibras anteriores): 

Função Primária: Abdução, FLEXÃO e rotação INTERNA do quadril.

Implicações:
- Funciona de maneira similar ao tensor da fáscia lata e glúteo mínimo.

- Contribuinte para dor ântero-lateral no joelho.

- Tem uma arquitetura semelhante ao deltóide (pensar nas funções do deltóide anterior x posterior). Diferentes porções dos músculos as vezes desempenham diferentes funções.

- Uma compensação comum causada por esta por porção do glúteo médio anterior é a flexão com rotação interna do quadril (no momento da flexão do quadril acima de 90º).
  

- Tem a tendência de se sobrepor às fibras posteriores. Assim como outras estruturas anteriores do quadril, tende a ser sobrecarregado, tornando-se rígido.



Glúteo Médio (fibras posteriores): 

Função Primária: Abdução, EXTENSÃOrotação EXTERNA do quadril.

Implicações:
Devido à posição de adução e rotação interna do quadril, acaba ficando em uma posição que coloca suas fibras em alongamento e por conseqüência incapazes de exercer tensão apropriada e por conseguinte afetando a estabilidade do joelho (por isso é considerado geralmente como: alongado/fraco).
Adução e rotação interna do quadril. Teste: Step Down

- Considerado o estabilizador chave do quadril. É necessário haver um equilíbrio de forças entre estruturas anteriores do quadril, como o tensor da fáscia lata e as fibras anteriores do glúteo médio (que exercem força anterior no trato iliotibial – e por conseqüência no joelho) e as estruturas posteriores, as fibras posteriores do glúteo médio (que irão também exercer uma força posterior no trato iliotibial). Esse equilíbrio ou a falta de tem implicações na dor patelofemoral.

- Frequentemente inibido pelo quadrado lombar, músculos anteriores do quadril (tensor da fáscia lata, fibras anteriores do glúteo médio), etc.

- Notem que as fibras anteriores e posteriores do glúteo médio tem a mesma função no plano frontal: abdução do quadril, mas possuem funções antagônicas no plano transverso (fibras anteriores: rotação interna; fibras posteriores: rotação externa) e no plano sagital (fibras anteriores: flexão; fibras posteriores: extensão). 




Vasto Medial: 
Função Primária: Extensão do joelho, rotação interna da tíbia com o joelho em flexão.

Implicações:
- Fundamental na estabilização patelar (ao exercer uma força medial na patela: cabo de guerra contra as estruturas que puxam a patela lateralmente).

- Na maior parte das vezes inibido, com as estruturas que exercem tensão lateral, sendo dominantes (vasto lateral, trato iliotibial), por vezes com a conseqüência de dor lateral no joelho.

- As fibras distais do músculo, o chamado vasto medial oblíquo (chamado assim pela orientação das fibras) são as que se tornam inibidas durante traumas no joelho (o termo inibido representa um atraso no tempo de resposta da ativação do músculo).

- Nas palavras do apresentador do material, o Mike Robertson, uma possível abordagem nesses casos seria:
      - Liberação das estruturas laterais (através das técnicas disponíveis: manuais ou de autoliberação): vasto lateral, glúteo médio anterior, tensor da fáscia lata.
- Ativação da porção posterior do glúteo médio.
A tradicional crença no fortalecimento do vasto medial oblíquo talvez não seja possível de ser realizada. 
E nas minhas palavras, provavelmente após isso, tenhamos de integrar essa abordagem sugerida em outras atividades: treino de força unilateral de membros inferiores, saltos unilaterais com ênfase inicial na desaceleração, etc. Lógico que cada caso deve ser analisado individualmente.
À esquerda: Agachamento unilateral; À direita: salto unilateral na caixa (ou box hops, em inglês)



Reto abdominal: 
Função Primária: Flexão do tronco, depressão do gradil costal, retroversão pélvica. 

Implicações:
- Alongado/fraco (mesmo raciocínio exposto acima em relação às fibras posteriores do glúteo médio), devido a anteversão pélvica, especialmente sua porção distal (que insere na sínfise púbica).

- Prescrever abdominais tradicionais (crunches na língua inglesa) é a solução? Estaremos treinando apenas uma função: a flexão do tronco. Lembrar do encurtamento adaptativo, para aqueles que fazem milhares de abdominais diariamente. Neste cenário, é provável que a função do glúteo sofra, tornando-se inibido e contribuindo para todos tipos de disfunções: lombar, joelho, isquiotibiais, adutores, etc.


- Na primeira implicação, vemos um cenário: posição alongada; na segunda, outro cenário: posição encurtada. É necessário que haja um alinhamento neutro da pelve.

- Talvez seu papel mais importante seja a de prevenir movimento: Função "anti-extensão lombar", e não produzi-lo, embora possa fazê-lo e muitas vezes seja necessário que o faça em muitas atividades.

- A estrutura dita a função, se não entendemos a estrutura, não seremos capazes de programar de acordo.

- De acordo com Stuart McGill (reconhecido expert na área da coluna lombar), necessitamos de estabilidade na lombar, mobilidade nos quadris e coluna torácica, a fim de poupar a lombar de carga excessiva. Um conceito já bastante conhecido, estabilidade no centro, mobilidade acima e abaixo dele.



Peitoral maior: 
Função Primária: Flexão e adução horizontal do ombro, rotação interna da articulação glenoumeral (com uma puxada anterior da cabeça do úmero).

Implicações:
- Roda a cabeça umeral internamente, mas  além disso a puxa anteriormente. 

- Duas porções diferentes: esternal e clavicular.

- Rígido/sobrecarregado em virtude de postura e treinamento.

- Síndrome do "supino", comum em frequentadores de academias, excesso do padrão de empurrar em comparação com a falta do padrão de puxar no treinamento (desequilíbrio entre os padrões no treino de força).

- Quantos pessoas passam horas sentadas? = Postura adaptativa.




Peitoral menor: 

Função Primária: Protração (abdução) da escápula, depressão e rotação inferior da escápula, estabilização escapular. 

Implicações:
- Notar a inserção no processo coracóide: Implicações no deslizamento anterior da escápula ("Síndrome do deslizamento anterior da escápula": Causando impacto nos tecidos moles através da diminuição do espaço sub-acromial).

- Melhor tratamento são métodos manuais de liberação para este músculo.
Rotação superior e inferior da escápula
Espaço subacromial



Trapézio superior: 


Função Primária: Elevação e rotação superior da escápula.

Implicações:
- Rígido/sobrecarregado em virtude de postura e treinamento.

- Dominante em relação ao trapézio médio e inferior.

- Par de forças juntamente com serrátil anterior e trapézio inferior para produzir rotação superior da escápula, precisam trabalhar sinergisticamente de maneira apropriada, a fim de não ocorrer um desequilíbrio que leve a compensações e consequentemente a problemas no ombro. O serrátil anterior é parte importante da equação, tende a ser inibido frequentemente pelas fibras superiores do trapézio.

- Podem estar inibidos, embora não seja comum.  



Levantador da escápula: 
Função Primária: Elevação e rotação inferior da escápula.

Implicações:
- Culpado por associação com o trapézio superior - pessoas com ombros encolhidos no computador por exemplo.

- Implicações em dores de cabeça e dor na borda medial da escápula.

- Compensação em pessoas com impacto no ombro. Se o supraespinhoso por alguma razão, se encontra impedido de realizar a sua função de elevar o úmero nos primeiros 15º do 

movimento (devido a lesão, alguma ruptura ou inibição), o levantador da escápula compensa encolhendo o ombro (provavelmente com alguma participação do trapézio superior) colocando o úmero em uma posição de aproximadamente 15º de abdução para que o deltóide possa assumir o movimento dali por diante. 

- Sempre observar a relação entre a borda medial e lateral da escápula. Em pessoas com "Síndrome de rotação inferior da escápula": Pessoas com a escápula rodada inferiormente, comum em quem senta por longas horas no computador com o teclado ou os braços da cadeira muito baixos, a borda medial da escápula ficará mais próxima à coluna torácica. O resultado comum, é rigidez no rombóide, levantador da escápula e inibição do serrátil anterior, com consequências diversas: dor medial na escápula, dores de cabeça, impacto no ombro, etc.



Esternocleidomastóideo:
Função Primária: Rotação no lado OPOSTO à contração (Ex: quando o lado direito contrai, a cabeça gira para a esquerda), flexão lateral do pescoço (no lado da contração), agindo em conjunto flexionam o pescoço. 

Implicações:
- Protrusão do pescoço (cabeça à frente).

- Dominante em relação aos flexores profundos do pescoço (músculos longo da cabeça e longo do pescoço). 

- Puxa a cabeça anteriormente (postura da cabeça a frente).




Redondo Maior:
Função Primária: Extensão e adução horizontal do ombro, rotação interna da articulação glenoumeral.

Implicações:
- Rígido/sobrecarregado em virtude de treinamento e postura (excessiva rotação interna do úmero).

- “Mini grande dorsal”, funções parecidas, embora não o mesmo comprimento de alavanca do grande dorsal.







Trapézio médio e inferior:
Função Primária: Médio: retração (adução) da escápula; Inferior: depressão, retração e rotação superior da escápula.

Implicações:
- Frequentemente inibidos pelas fibras superiores.

- Difícil de serem treinados, difícil das pessoas terem a percepção do que devem fazer nos exercícios de ativação das fibras médias e inferiores do trapézio.

- Trapézio inferior forma uma combinação de forças com o serrátil anterior e o trapézio superior na rotação superior da escápula (relação explicada mais acima no artigo).


Breve a parte final do artigo...

domingo, 19 de outubro de 2014

Notas Sobre Anatomia Funcional - Parte 3

E seguem as notas a respeito do material do Cressey/Robertson: Building the Efficient Athlete, lembrando que a série de dvds é muito mais abrangente, eu é que me detive nesse aspecto: Considerações relacionadas à anatomia funcional. 

Aos que não leram as 2 primeiras partes, aí vão os links:
Notas em Anatomia Funcional - Parte 1.
Notas em Anatomia Funcional - Parte 2.

Um grande abraço a todos e espero que me perdoem a demora eterna em publicar, aproveito e agradeço as muitas manifestações de apreço que recebo, obrigado gurizada!


Notas Sobre Anatomia Funcional - Parte 3
Marcus Lima


Fibular Longo: 
Função Primária: Eversão (abdução do pé), contribui na flexão plantar.

Implicações:
- Normalmente rígidos/sobrecarregados juntamente com o gastrocnêmio/sóleo. Os flexores plantares normalmente são sobrecarregados, pensar em quantos passos são dados diariamente (ou corridas, etc.) reforçando essa rigidez/atividade anormal.  

Desequilíbrio entre Flexores plantares x Dorsiflexores. Problemas na perna podem causar problemas mais acima na cadeia cinética. 










Gastrocnêmio/Sóleo:
Gastrocnêmio à esquerda e sóleo a direita
Função Primária: Flexão plantar; flexão do joelho (gastrocnêmio). Ainda que sejam referidos normalmente em conjunto e tenham funções semelhantes, tem algumas funções diferentes (lembrar que só o gastrocnêmio cruza a articulação do joelho)

Implicações:
- Desequilíbrio muscular na perna: gastrocnêmio/sóleo rígidos/sobrecarregados X dorsiflexores (como o Tibial Anterior) fracos/inibidos.
Flexão plantar
- Pensar no item anterior, e na falta de mobilidade de tornozelo que vemos em grande parte das pessoas, ao prescrevermos exercícios para a perna (como os exercícios com foco na panturrilha, tão comuns em academias).

- Problemas na panturrilha refletem em problemas como: tendinoses no tendão calcâneo, fasciite plantar (Lembrar da Linha/Trilho Superficial Posterior - Thomas Myers: O conhecido conceito das continuidades de fáscia e/ou continuidades mecânicas interligando diferentes locais do corpo ao qual o Myers chama de trilhos, em uma analogia com linhas férreas. Poderíamos chamar também de cadeia posterior).
Linha Superficial Posterior
(da fáscia plantar até a fáscia do couro cabeludo)


Oblíquo interno:

Função Primária: Flexão do tronco (ação bilateral), rotação do tronco (ação unilateral em conjunto com o oblíquo externo oposto).

Implicações:
- Recrutado mais para flexão do tronco do que para retroversão da pelve. 















Transverso abdominal:


Função Primária: Expiração forçada, “encolher a barriga” (abdominal hollowing) – aumento da pressão intra-abdominal.

Implicações:
- Ganhou muita fama como promotor da saúde lombar no final da década de 90 e início da década de 2000 (provavelmente devido a um estudo de Paul Hodges e Carolyn Richardson, que demonstrou que indivíduos com dor lombar crônica tinham atividade diminuída do transverso abdominal, mais precisamente um atraso na ativação, quando comparados a indivíduos saudáveis).

- Stuart McGill, conceituado pesquisador canadense, advoga o uso de bracing (técnica de “enrijecer” a parede abdominal) para ter um tronco estável ao realizar tarefas, com cargas pesadas principalmente. Vejo muito uma combinação de respiração diafragmática (aumentando a pressão intra-abdominal, como um balão cheio de ar) + a técnica de bracing. O resultado (ao menos empiricamente) é um tronco estável e apto a receber carga.

- A menos que haja alguma questão específica, treinar o transverso é algo que não deveria nos preocupar.


Multífidos:



Função Primária: Estabilização segmentar (entre os segmentos vertebrais), propriocepção espinhal.

Implicações:

- Similar ao transverso abdominal, abordado anteriormente, em casos de dor lombar tendem a estar inibidos ou com atraso de ativação.

- A função proprioceptiva, talvez seja a mais importante, informando ao sistema nervoso central o que está ocorrendo na coluna.









Glúteo Máximo:


Função Primária: Extensão, rotação externa e abdução do quadril.

Implicações:
- Tendem a estar fracos e com comprimento muscular maior do que o normal (“alongado”) devido à anteversão pélvica.

- Fraqueza/inibição, leva a uma série de problemas: estiramentos de adutores e isquiotibiais (estes 2 problemas provavelmente ocorrem devido a uma dominância dos sinergistas, os auxiliares, na extensão do quadril. O velho caso de: Se o Chefe-glúteo não faz seu trabalho os Auxiliares-isquiotibiais-ou-adutores tomam a tarefa para si, e sobrecarregados tendem a sofrer lesões). Dores lombares podem ter relação com fraqueza/inibição do glúteo máximo (de novo, se o glúteo não faz o trabalho, provavelmente a quantidade de extensão lombar aumenta em uma tentativa de compensar).

- Não basta somente ativar os músculos (com progressões de pontes ou progressões em 4 apoios), estes músculos precisam ser mais fortes também.

- Relação com a síndrome do deslizamento anterior da cabeça femoral (impacto anterior no quadril). O glúteo, por ter inserção direta no fêmur, tem papel importante em manter a cabeça do fêmur contra o acetábulo, controlando uma rotação apropriada na articulação (um eixo de rotação correto e equilibrado), puxando a cabeça do fêmur posteriormente. Se por exemplo os isquiotibiais assumem o trabalho principal na extensão do quadril, a alavanca produzida por eles faz com haja uma translação anterior da cabeça do fêmur = impacto anterior no quadril = dor anterior no quadril (Essa é uma teoria da fisioterapeuta Shirley Sahrmann, sugiro a leitura de seu livro: Diagnoses and Treatment of Movement Impairment Syndromes).

Espero não demorar tanto tempo para publicar a próxima...

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Notas Sobre Anatomia Funcional - Parte 2

Antes de dar continuidade com mais músculos apresentados, queria retornar em uma questão em particular e adicionar mais algumas informações que acho que ficaram incompletas. Vamos nos deter no quadrado lombar, reproduzirei novamente algumas informações dadas na Parte 1 (aqui o link: Notas Anatomia Funcional - Parte 1) deste artigo.

Quadrado Lombar:

Função Primária: Flexão lateral do tronco (com os pés fixos no chão), elevação da pelve do mesmo lado (em cadeia cinética aberta).

Implicações:
- Contribui para o desnível da pelve (quadril alto), no lado onde está tenso.

- Quando existem problemas de ativação com o glúteo médio, o quadrado passa a (tentar) assumir/auxiliar a abdução do quadril, ocorre quando vemos uma inclinação da pelve do lado oposto em movimentos no plano frontal. (Nota pessoal: Ligado ao mecanismo de lesão muscular dos adutores).


Queria me deter naquela Nota: Ligado ao mecanismo de lesão muscular dos adutores. Coloquei aquela observação baseado numa apresentação da treinadora e palestrante da Exos (antiga Athletes Performance) Nicole Rodriguez (uma extraordinária treinadora e palestrante). Vou reproduzir as notas que fiz do que a Nicole explicou a respeito de um dos mecanismos de lesão dos adutores em atletas, durante uma de suas palestras na Mentorship da Exos em Buenos Aires em novembro de 2013. Ela fez a discussão em cima de uma foto de um jogador de rugbi (como estávamos na Argentina, onde o rugbi é popular, fez sentido), mas podemos aplicar a qualquer esporte. Reproduzo minhas anotações abaixo:

Discussão e Análise de Foto de Rugby – Mudança de Direção (mecanismo de lesão de adutores):

- Ombros e troncos estão altos na figura e ele está em uma posição equilibrada.

- Se o tronco não é forte e estável o ombro esquerdo sairia do alinhamento com o centro de massa (*tronco inclinado para a esquerda, para o lado da perna que está com o joelho em extensão e o pé no solo) no momento da mudança de direção. E é neste momento que lesões nos adutores acontecem,
(a inclinação para a esquerda do tronco neste exemplo criaria um stress 
excêntrico na região adutora do quadril. Como na foto da Nicole ao lado.
Especialmente se o atleta encontra-se em uma base ampla de suporte, com essa inclinação do tronco para o lado da perna que está estendida.  Daí a importância do ensino de maneira lenta/controlada da mudança de direção, para
que quando os atletas se movam rápido eles o possam fazer da maneira mais eficiente possível, mantendo a postura equilibrada.


- Exercícios tradicionais monoarticulares (em máquinas, ou com aqueles anéis usados no pilates) farão muito pouco em termos de redução do risco desse tipo de lesão muscular nos adutores. Assim como seu uso na reabilitação (no caso da lesão ter já ocorrido). Nesse exemplo da foto (do jogador de rugby), os adutores trabalham para estabilizar. 

Quando escrevi as notas sobre o material do Cressey/Robertson, no momento em que eles falavam na relação do quadrado lombar como substituto na abdução do quadril no caso de atraso de ativação do glúteo médio, e nas consequências desse atraso de ativação na estabilização do quadril, já que o glúteo médio desempenha um grande papel nisso, lembrei do que disse a Nicole e de que provavelmente os 2 estão conectados.


Pois se há atraso na ativação/fraqueza do glúteo médio e ocorrer esta substituição de ativação, a inclinação pélvica (no lado contrário a contração do quadrado lombar) causada por está contração do quadrado lombar, somada a flexão lateral da lombar no momento de uma mudança rápida de direção pode causar lesão muscular nos adutores, como explicou a Nicole Rodriguez. Olhando a foto ao lado fica mais simples de visualizar isso, é só imaginar a contração do quadrado lombar do mesmo lado dos músculos adutores mostrados, isso causará uma inclinação lateral da coluna para o mesmo lado e uma inclinação superior da pelve do lado oposto, pondo em estiramento todo o grupo adutor. É lógico que possivelmente existem outros elementos em toda essa relação causa-efeito que tentei fazer, mas muito provavelmente essa relação que teci existe.






Usando outro esporte como exemplo, os goleiros de handebol são submetidos a extremos de amplitude nos movimentos do plano frontal (abdução). Por isso devem manter uma boa estabilidade de tronco, um padrão de ativação e controle neuromuscular adequado afim de diminuir as chances deste tipo de lesão ocorrer. Como já vi acontecer com um de nossos goleiros aqui em nossa equipe de handebol, a ASH-Praxis, o movimento foi parecido com o da foto, a diferença é que o nosso goleiro estava com aquele joelho direito estendido e ao contrário do goleiro da foto, que está com o tronco ereto e bem posicionado, o nosso fez a flexão lateral da coluna para a direita, da qual falamos antes, causando um estiramento da região adutora.


 Além do treino de movimentos multidirecionais (deslocamentos laterais, rotacionais, mudanças de direção), e do treinamento de força unilateral (utilizando especialmente as variações sem suporte), o que possibilitará uma transferência do treino para a função exercida em campo/quadra seria o uso dos exercícios posturais na parede (“isometric holds”), trabalhando a postura estática e dinâmica (dependendo da variação utilizada). Na foto o meu amigo Tiago Proença, proprietário da BPro em Porto Alegre, executando uma das variações.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Notas Sobre Anatomia Funcional - Parte 1

Algumas anotações feitas ao assistir um dvd que já tem algum tempo de lançamento, mas que contém um material bem interessante, o dvd chama-se Building the Efficient Athlete e foi filmado durante um curso dado por 2 preparadores físicos norte-americanos: Eric Cressey e Mike Robertson.
Resolvi compartilhar as notas que fiz, onde se discute a respeito do papel de diversos músculos, eles colocam a função que é descrita nos livros tradicionais e adicionam algumas considerações a respeito de cada um destes músculos, achei que valia a pena compartilhar, pode ser que seja mais uma peça adicionada a montagem deste quebra cabeças que é a compreensão do funcionamento do corpo humano.

Espero que seja útil aos amigos.
Abraço aos amigos.


Notas sobre Anatomia Funcional - Parte 1

Marcus Lima



Membros Inferiores e Tronco

Reto Femoral:

Função Primária: Flexão do quadril, extensão do joelho.

Implicações:
- Flexores do quadril rígidos = glúteos fracos (através do processo de inibição recíproca).

- Pode estar associado a anteversão pélvica, aquela inclinação anterior da pelve que pode nos causar tantos problemas (pode não ser O culpado, mas está metido no problema).

- Rigidez do quadríceps (e o reto femoral é um deles) é uma das causas comuns de dor anterior no joelho.





Tensor da Fáscia Lata:

Função Primária: Flexão, abdução e rotação interna do quadril, um pouco de assistência na extensão do joelho.

Implicações:
- Frequentemente rígidos ou aderidos ao vasto lateral (através da banda iliotibial, como pode ser visto na foto do lado direito, onde são mostrados o vasto lateral e o tensor da fáscia lata, no membro esquerdo está somente o tensor da fáscia lata). Essa falta de deslizamento entre o vasto lateral e a banda (ou trato) iliotibial contribui para a dor lateral no joelho.

- Contribui para a lateralização da patela, pelos motivos citados no item acima.

- Melhor curso de ação são métodos manuais de liberação do trato iliotibial. 




Ilíaco:
Função Primária: Flexor e rotador lateral do quadril.

Implicações:

- Flexores do quadril rígidos = glúteos fracos (inibição recíproca, mesmo processo citado no músculo reto femoral).

- Quantas horas as pessoas passam sentadas? Adaptação à postura adotada por todos nós, fazendo com que o músculo se torne rígido.

- Ilíaco é DIFERENTE do Psoas! (embora comumente nos referimos a eles como Íliopsoas, possuem origens diferentes e diferem na função).






Psoas Maior:
Função Primária: 
No quadril: Flexor e rotador lateral. 
Na coluna lombar: Extensão e rotação lateral. 
Estabilidade lombar: Através da compressão axial e controle de carga excêntrica.

Implicações:
- Conexão com o diafragma e assoalho pélvico, através de fáscia (importante na estabilidade lombar).

- Está rígido ou Inibido? 
         - Podemos analisar o comprimento, para ver se há rigidez, através do Teste de Thomas.
         - Podemos analisar a ativação, para ver se é efetivo na ativação acima de 90º, através do Teste do Psoas em Pé – elevando uma perna.

- Verificar assimetrias (que lado é o culpado? Os dois lados estão iguais?)

- Pode causar anteversão pélvica, isso associado com a extensão lombar pode ser = Dor lombar.

- Único dos flexores do quadril que é efetivo acima dos 90° (por causa de seu braço de alavanca privilegiado).

- Thomas Test: Dá uma ideia da extensibilidade dos músculos flexores do quadril e de qual deles pode ser problemático.

- Compensações comuns: Se a coxa eleva (rigidez do psoas maior); Se a coxa eleva e o joelho estende (rigidez do reto femoral); Se ocorre abdução e rotação interna (rigidez do tensor da fáscia lata).


- Teste do Psoas em Pé - elevando a perna:
- Sustentar o joelho acima de 90º de flexão do quadril por 10 a 15 segundos.
- Procurar assimetrias e padrões compensatórios (inclinação anterior do quadril “se jogar para trás”, pode ser feito com as costas contra uma parede afim de eliminar essa compensação).Cãibra no tensor da fáscia lata é uma ocorrência comum, indicando uma tentativa de substituição da ação do psoas maior pela ação do tensor da fáscia lata, como sua alavanca é desfavorável, cãibras na região lateral do quadril podem ocorrer.
Como podemos ver no vídeo acima, assim que ela solta a perna, esta imediatamente desce e continua descendo aos poucos a medida que transcorre o teste. Indicando problemas com a ativação do psoas maior.


Vasto Lateral:
Função Primária: Extensão do joelho, com o joelho em flexão produz um pequeno torque de rotação externa da perna.

Implicações:
- Podem tornar-se rígidos e aderidos ao trato iliotibial (como mencionado anteriormente).

- As estruturas laterais do joelho e quadril tendem a predominar e tornarem-se rígidas e sobrecarregadas, em oposição às estruturas mediais (cabo de guerra: lateral x medial = patela pagando o pato. Fazendo com que a patela tenda a lateralizar e atritar de maneira anormal com a borda lateral do sulco chamado de tróclea femoral).

- Tende a puxar lateralmente a patela.


Adutor Magno:

Função Primária: Adução, rotação interna, flexão e extensão do quadril.

Implicações:
- Considerado o 4º isquiotibial (Thomas Myers, autor do ótimo livro: Trilhos Anatômicos). Myers o considera assim, por sua posição e função no que diz respeito ao quadril (como vemos no membro direito na foto. No esquerdo aparece o adutor magno sozinho).

- Sobrecarregado quando o glúteo é inativo. 
Na anteriorização da pelve: glúteo não funciona – dominância dos ísquios na extensão do quadril – em seguida vem o adutor magno

- Atleta mulher: 
Anteriorização da pelve: glúteo não funciona – quando há uma dominância do adutor magno, a extensão do quadril vem acompanhada de uma rotação interna, mais a adução do quadril, essa ação acentuada pela estrutura pélvica mais larga da mulher = mecanismo de lesão do Ligamento Cruzado Anterior do joelho (não se pode alterar a genética feminina, mas se pode melhorar a biomecânica de todo o complexo do membro inferior).

- Substituto do glúteo na extensão do quadril (quando há falta de ativação do glúteo: dominância sinergística). Como dito antes, o problema nem é tanto a extensão do quadril, mas sim os movimentos no plano transverso, onde não há o glúteo máximo para desacelerar a rotação interna, e quando há uma predominância do adutor magno a coisa fica pior porque ele é um rotador interno (devemos estimular o trabalho do glúteo como estabilizador no plano transverso).


Glúteo Médio Anterior:

Função Primária: Abdução, flexão e rotação interna do quadril

Implicações:
- Funciona de maneira similar ao tensor da fáscia lata e glúteo mínimo.

- Contribuinte para dor ântero-lateral no joelho.

- Tem uma arquitetura semelhante ao deltóide (pensar nas funções do deltóide anterior x posterior). Diferentes porções dos músculos as vezes desempenham diferentes funções.

- Uma compensação comum causada por esta por porção do glúteo médio anterior é a flexão com rotação interna do quadril (no momento da flexão do quadril acima de 90º).

- Tem a tendência de se sobrepor às fibras posteriores. Assim como outras estruturas anteriores do quadril, tende a ser sobrecarregado, tornando-se rígido.



Piriforme:
Função Primária: Rotação lateral e extensão do quadril.

Implicações:
- Um dos 6 pequenos músculos rotadores laterais (externos do quadril).

- Localizado superiormente em relação aos outros 5.

- Tensão excessiva leva a retroversão pélvica com conseqüente diminuição da curvatura lombar (flexão lombar), o que por sua vez pode levar a lesões discais. Pessoas com discopatias em geral apresentam rigidez no piriforme.

- Tensão excessiva, leva a falta de rotação interna do quadril, especialmente com o quadril flexionado a menos de 90º.





Quadrado Lombar:

Função Primária: Flexão lateral do tronco (com os pés fixos no chão), elevação da pelve do mesmo lado (em cadeia cinética aberta).

Implicações:
- Contribui para o desnível da pelve (quadril alto), no lado onde está tenso.

- Quando existem problemas de ativação com o glúteo médio, o quadrado passa a (tentar) assumir/auxiliar a abdução do quadril, ocorre quando vemos uma inclinação da pelve do lado oposto em movimentos no plano frontal. (Nota pessoal: Ligado ao mecanismo de lesão muscular dos adutores).

- A dominância da mão tem influência, destros geralmente terão o quadril direito mais alto, canhotos o esquerdo.





Eretores da Coluna:

3 nomes: Iliocostal, Espinhal, Longuíssimo do Dorso.

Função Primária: Extensão (ação bilateral), Rotação (quando um lado contrai).

Implicações:

- A anteriorização da pelve, além de inibir os glúteos, enrijece/encurta os eretores da espinha (sobrecarregados). Então além do glúteo alongado e fraco temos os eretores compensando e contribuindo para lesões (pensar no levantamento terra, talvez seja essa a causa e não o exercício em si).